Escrevendo sobre escrever VI


   


    Escrever é sonhar acordado. É estar lúcido no mundo da imaginação. Moldá-la de acordo com sua vontade e capacidades. É captar algo imaterial e trazê-lo para o mundo material e compartilhá-lo. É mágico. Ou um truque, para ser mais honesto. 

   O escritor conduz o leitor, na tentativa de encantá-lo. Levo isso a sério. Para mim, aliás, como um mágico, o escritor deve manter a atenção do leitor e, principalmente, surpreendê-lo. Como naquele filme do Cristhopher Nolan, onde o Hugh Jackman enfrenta Christian Bale.  Dizem que uma mágica é dividida em três partes. A primeira é a promessa, onde algo normal é mostrado, podendo ser até um homem. A segunda é chamada de a virada, onde o mágico transforma o algo comum em algo extraordinário, como fazer o homem desaparecer. E a terceira é o título do filme. Se chama O grande truque e consiste na conclusão. Não basta fazer o homem desaparecer aqui. Ele precisa aparecer ali. Com isso o público precisa considerar o que viu. 

   Escolhi a literatura fantástica mas, isso não facilita em nada a magia. Pelo contrário. Transformar o que já é extraordinário, em algo ainda mais, é um grande feito. E grande é a satisfação. Esta é uma das duas razões principais que me levaram a escrever livros fantásticos. A outra é acreditar nas mensagens com as quais permeio tais livros.


    O leitor quer ser enganado, se for bem enganado. Ele quer poder folhear páginas anteriores e ver que não conseguiu ver que estava lá o tempo todo. Valendo à pena uma segunda leitura.  Aliás, quantos livros já li mais de uma vez? Muitos. Nenhuma mente é afiada o suficiente para registrar, conscientemente, toda a informação de um livro. Um livro com boas mensagens, merece ser não apenas lido, mas relido, e me agrada tornar a segunda leitura ainda mais interessante. Há um quê de novo numa segunda leitura se o leitor ler com "outros olhos".

    Ler é buscar algo novo. O leitor quer ser surpreendido. A busca por uma nova aventura, por si só, é evidência suficiente do quanto a surpresa é almejada. Não consigo escrever sem imaginar que estou realizando um truque de mágica. Expondo os acontecimentos numa cadência medida, induzindo deduções que funcionam, enquanto precisam funcionar, até o ápice. Tenho a necessidade de tirar o chão dos personagens envolvidos, e, através deles, dos leitores. A arte não está, propriamente dito, em tirar o chão e sim, mantê-los no ar. Quanto melhor sucedido o truque, mais fascinado o leitor ficará e mais "encantado". Quero fazê-los voar. Quero deixá-los suspensos, levitando, o máximo de tempo possível, antes de trazê-los para o chão novamente, um tantinho que seja, transformados. 

   A mais leve euforia provocada já é suficiente para justificar o ato de escrever. Precisamos, de quando em quando,  estar fora de nós mesmos para podermos olhar de forma diferente para o mundo e, com isso, contribuir para, sempre, inová-lo. Foi nisso que me encontrei.  Escrevo porque preciso. Busco fazer de cada livro um convite a uma jornada mágica. Meu fascínio está em fascinar. 

   Tenho uma imensa necessidade de me sentir vivo, enquanto respirar. Vivo de verdade. Sei que é estranho. Vivemos num mundo prático, onde praticamente não vivemos. Eu, no entanto, desafortunado, me vi viciado no extraordinário e sem vontade de ser curado. Como se contentar com o solo árido, quando nosso coração deseja as alturas com a força de um cavalo, ansioso pela liberdade de correr cada vez mais veloz?
     
    E qual campo seria mais ideal para correr do que o da imaginação?

    Certamente o extraordinário só se mantém extraordinário, se não for constante. Sei bem disso. O que é constante, em mim, é a necessidade de senti-lo, após criar as condições necessárias, já que todo o processo, aparentemente simples, é parte da magia. A versatilidade de uma escrita, em assumir várias intensidades, nos momentos mais oportunos, é extremamente importante e aconselhável.  

      
    Sinto uma imensa necessidade de sentir. Isso reflete em minha arte. E, de todas as artes às quais me dedico, escrever é a mais vital para mim, seguida de encenar o que escrevo. É deixar a minha marca no mundo. Um tantinho na alma de cada um que for alcançado. Talvez atravessar os séculos, como uma pessoa que fez diferença, por menor que seja, para outras pessoas e, consequentemente, para o mundo. Sonho em ser alguém assim.

     Todos somos o que sonhamos. O desejo que estica nossas pernas e nos coloca entre as nuvens.  Eu sou um sonho. E quero me realizar. Escrever é parte disso. 
   
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William Morais