Influências II


    

    O segundo autor do qual mais li livros nesta vida e que tem meu respeito e admiração por seu trabalho é, considero eu, John Wilmont Rochester. Tais obras me fizeram companhia nos anos de 1996 a 1999 e refletiriam, dali em diante, em minha vontade de escrever.

   Rochester nasceu em 1647 e com quatorze anos recebeu o título de mestre das artes do colégio Wadham (Universidade de Oxford). Ainda jovem se tornou uma celebridade na alta sociedade. Seus vícios, porém -sobretudo o sexual-, encurtaria sua vida pautada em escândalos. Antes de morrer teria ditado suas memórias a Gilbert Burnet, onde, dizem, evidencia seu arrependido pela vida depravada. Ele morreu coxo, cego e sem nariz aos 33 anos. Em novembro de 2005 a vida desregrada de Rochester é retratada no cinema, onde o ator Johnny Depp o interpreta de forma bastante eficiente, num filme de igual competência. A arrogância de Rochester não é maquiada e suas ações despudoradas menos ainda.  


    Morrer, geralmente, é um bom negócio para um escritor de relativa fama. É quando o sucesso alcança o ápice e tudo o que ele fez se torna ainda mais valioso. Rochester é mais um autor que comprova isso. Seus poemas atravessam os séculos elogiados ao extremo pelos críticos. Ele vai além, no entanto, segundo dizem.  As obras de Rochester, às quais me refiro com tanto carinho, foram escritas por ele depois de morto. Dizem.

    Segundo a doutrina espírita, da qual não sou adepto -não por não considerar a possibilidade de seus conceitos e sim por simplesmente não me ater a uma religião-, Rochester teria se arrependido tão profundamente de sua vida na carne que seu espírito não alcançaria outros planos sem antes dar uma verdadeira contribuição artística à humanidade, sendo aceito como, creio eu, no fim das contas sempre quis ser. 
    Livre da carne, os espírito de Rochester não estaria preso no tempo e espaço e, assim, ele teria uma visão privilegiada da qual lançou mão para contar e recontar histórias fantásticas sobre a humanidade.
   
   Verdade ou não, as obras ditas psicografadas são sublimes. Entre elas se destacam: O Faraó de Mernephtah, As duas Esfinges, Os luminarees Tchecos e toda a saga dos magos imortais em O elixir da longa vida, Os magos, A ira divina, A morte do Planeta e Os Legisladores.



    
    Sobre a veracidade da autoria dos livros, vale mencionar que mais de um médium escreveu em nome de Rochester, mas, apenas uma mão trazia a identidade que se tornou, ao menos para mim, a do verdadeiro Rochester; indo muito além da saudosa descrição de cabelos negros como as asas de um corvo. Alguns traços podem ser copiados, outros não. A diferença de profundidade era considerável. Não consegui avançar na leitura dos livros psicografados por outra mão, senão aquela que possibilitou a realização das obras citadas acima. Tal mão pertencia à Wera Krijanowsky (ou Krijanowskaia, como traduziram).
    
    Por tanto, falar de Rochester pós sua morte, sem falar de Wera, é impossível. 

    Wera Krijanowsky. Nasceu em 1861 e morreu em 1924. Através dela Rochester teria escrito 57 livros, dos quais 42 foram publicados e 15 são dados, até então, como perdidas.
    O caso de Wera merece atenção, pois, ela foi estudada incansavelmente pelos doutores da época. Há relatos que contam sobre a palidez sobrenatural que tomava conta de sua tez no momento em que escrevia vertiginosamente numa velocidade inacreditável. Preenchia uma página por minuto, dizem, em letras pequenas e bem desenhadas.       

    Wera recebeu um título de honra pelo Romance O chanceler de ferro, pela precisão histórica dos costumes da civilização egípcia. A Academia Imperial da Rússia lhe ofereceu uma menção honrosa pela perfeita descrição da sociedade Tcheca retratada na obra sobre a vida de Jan Huss. O mesmo não aconteceu, em relação à descrição do funeral da Rainha Hatasu, pois Wera já estava morta quando descobriram uma tumba no Egito exatamente como foi descrita em seu livro, cinqüenta anos antes.

    Verdade ou não, sinceramente, não me interessa. Me fascinaram, como todo história deve ser.
    
    Rochester dedicou sua vida à arte e, consideremos, parte de sua pós-vida. Não nos custa pensar que, tendo o espírito fogoso como tinha, Rochester realmente não conseguiria deixar algo pela metade. Ele tinha uma alma de artista e isso é indiscutível. E todo artista quer ser admirado. A provocação do prólogo aprece dizer o contrário. Nos mostra um Rochester cuspindo, com tanta elegância quanto arrogância, na cara de seu público. Ele lança um desafio, porém. Ele fala de desejo e o desejo mais evidenciado é o da aceitação. Ele aceita o outro, seja quem for e como for, completamente e desafia alguém a gostar dele, sendo ele como é: alguém que se lançou à uma experiência artística de existir através do desejo. A apuração de tal imersão laboratorial, o próprio Rochester do filme colocou na mão do público... ou o que restou dele...  pois, lembro-me bem, vi muita gente abandonando a sala de cinema no qual assisti a este filme. E era numa sala do belas artes, onde o público, geralmente, é mais aberto a experiências cinematográficas diferenciadas, por assim dizer. Não duvido ter acontecido o memso em outras salas. 

   Rochester viveu de forma intensa, buscando a aceitação. Para mim, o filme não poderia ter começado melhor do que com aquele prólogo e muito menos terminado de forma mais esplêndida do que naquele epílogo.
   
    Seja o Rochester escritor dos livros que li, ou não, nem importa muito pelo simples fato de poder ter sido ou de ter sido, ao menos, alguém que inspirou alguém a escrever como foi escrito e agradeço a quem quer que seja. É possível, até, que o verdadeir conde Rochester não tenha sido tão visceral como é retratado e que ele seja, como muitos outros, apenas um personagem muito mais imaginado do que real, mas, nem por isso, menos interessante. Quantas religiões são sustentadas por personagens assim? O que interessa é o que nos inspiram, no fim das contas. Este é o poder das histórias.

    Confiram o trailer do filme acima e, principalmente, o epílogo aqui em baixo. Leia algum dos livros citados - muito mais principalmente-, e tire sua própria conclusão. 



 

Influências I

    Em Influências, escreverei sobre escritores que, com certeza, contribuíram para que eu almejasse ser escritor, além de, é claro, me terem feito um feliz leitor.
 

Marion Zimmer Bradley

   Começo com uma das escritoras mais admiráveis, responsável por dezenas de livros que embalaram minha existência neste mundo, ao me conduzir a outros. Seu nome é Marion Zimmer Bradley. Talvez algumas pessoas não lembrem seu nome, mas é difícil achar quem nunca tenha ouvido falar de As Brumas de Avalon, acredito. Mesmo quem nunca tenha lidos os livros que compõe esta obra. Como eu. Por alguma razão, nunca consegui lê-los. Nunca os tive em mãos.
    


    O primeiro livro de Marion Zimmer que li se chamava A queda de Atlândida - livro I - A teia de luz. Fiquei fascinado. Para mim ela só podia estar enxergando através do tempo. Busquei mais livros dela e me deparei com uma coleção ampla, chamada Darkover, que relata uma possibilidade de futuro, num planeta distante, onde a humanidade, com sua tecnologia, precisa interagir com seres dotados de capacidades extraordinárias. Li quase todos o livros desta vasta coleção. O primeiro deles foi A espada encantada.


    Marion Zimmer não escreveu, porém, apenas sobre o passado ou sobre o futuro da humanidade. Ela deu um novo tom para a nossa época atual, nos maravilhosos livros Ghostlight, Witchlight, Gravelight e Heartlight.


    Marion Zimmer nasceu em 1930, nos estados Unidos, e morreu aos 69 anos, em 1999. Ela morreu aos 69 anos, mas, não com 69 anos. Me recuso a acreditar. Além de ter vivido tudo o que viveu, neste mundo, lutando pelas lésbicas, casando-se por duas vezes, criando seus filhos e tudo o mais; ela viveu além do tempo, séculos e mais séculos. Visitou o passado, esmiuçou o presente e vislumbrou um futuro absolutamente fantástico e, nem por isso, inacreditável. E nos presenteou com toda esta visão.
    Fica aqui minha humilde homenagem a esta escritora que nunca soube, ou saberá, o quanto sou grato por seu trabalho.

    Lembro-me de estar à beira de enlouquecer, em meu serviço, entristecido com minha rotina massante, cheio de dúvidas e medos, querendo ser mais do que eu era e, de repente, ler um livro sobre alguém que empunhava uma espada encantada e que, mesmo assim, tinha dúvidas e medos.
    
   Sei que parece dramático, mas, Marion Zimmer contribuiu para minha libertação. Não uma libertação do sistema. Uma libertação da minha mente. Uma vez a mente livre, não importa onde você está. Toda vivência é válida. Tudo é uma aventura. Algumas mais gratificantes, outras menos. Tudo depende do quanto nos arriscamos. Talvez isso seja algo que nunca mudará. Independente do tempo. Uma de suas personagens disse uma vez:

    “Parece existir uma profunda transformação na visão que os homens hoje possuem do mundo, como se uma única verdade pudesse negar outra, como se, uma vez, não sendo a verdade de uns, a outra se tornasse uma mentira.” 

    Em qual época isso não se aplica? Ao meu ver em nenhuma. Mudamos de roupas. Trocamos de armas e equipamentos, mas somos aventureiros, nos relacionando com outros, dentro de um mundo de regras limitadas e egoístas. O respeito é uma lenda. Cada qual tem sua verdade como absoluta e vão lutar por ela, de uma forma ou de outra, numa intensidade ou outra. Dependendo do que realmente queremos para nós mesmos. E com isso as histórias são contatas.   
    A eterna aventura. Quanto maior o risco, menor a probabilidade de sucesso. Quanto menor a probabilidade de sucesso, maior a glória... e por aí vai.
     Graças a Marion Zimmer, e outros, me arrisquei a escrever. Se a nossa existência é uma vida de várias aventuras; escrever é, ao meu ver, uma aventura de várias vidas. É o que quero para mim.

William Morais

Escrevendo sobre escrever II


  


       A razão de escrever?


     Bem, escrever é sinônimo de desafio. Ou desafios, melhor dizendo. O escritor precisa, antes de mais nada, converter e organizar, em palavras, eventos e personagens, em determinados cenários, da forma mais interessante possível, para passar uma mensagem, sem deixar que a alma dela se perca em tanta métrica. Depois de tudo, o escritor precisa conseguir ser lido. E, em virtude da inércia cultural contrária ao que é mais sutil e menos imediato, conseguir tal façanha não é nada fácil. A menos que você tenha séries ou filmes caríssimos produzidos, para servir de propaganda.  Como não é a realidade de... quase todos os escritores... nos resta lutar para conseguir tempo para escrever sem certeza alguma de um pagamento que justifique a energia elétrica e o computador que estão sendo usados, para citar o mínimo. Ante tantos desafios, vem a pergunta: O que nos leva a não desistir?


    A satisfação do escritor é intensificada a qualquer vestígio de vencer os desafios iniciais. A maior satisfação, porém, está numa vontade inerente ao ser humano: compartilhar.

    Não é à toa que a internet é movida hoje por esta vontade. O prazer em compartilhar é facilmente perceptível quando nos encontramos com amigos para beber, comer ou simplesmente contar casos. Inúmeras vezes fiz questão de levar amigos e familiares para assistirem a algo que eu já havia assistido para, puramente, assisti-los a assistir o filme ou espetáculo que me encantou. Saber, aliás, o que iria acontecer, ampliava minha satisfação e meus sentidos, atentos para captarem as reações daquelas pessoas, para verificarem como eram mexidas por aquilo diante de nós.

    Certamente é mais simples compartilhar vídeos, fotos, tirinhas e outros artifícios imediatos. Os livros requerem um tempo maior e mais disposição. Felizmente ainda são sugeridos a amigos, num círculo menor, que seja. É preciso ter consciência disso. Lutar para que os livros continuem a existir é algo não apenas do escritor. O leitor precisa se libertar das correntes da inércia que nos direciona para um mundo onde a qualidade da cultura é seriamente questionável.   


    Os escritores não deixarão de escrever. Não os que escrevem, antes de mais nada, para eles mesmos. Pela satisfação de vencer os primeiros desafios e contemplar sua obra. Para que ela não vá parar numa gaveta ou pasta virtual, porém, há os outros desafios de uma guerra sem fim.

    Para ser escritor lido, hoje em dia, é necessário ir ao campo de batalha e lembrar aos leitores - seu exército-, o fato de estarem lutando uma guerra sem fim. Não lutamos por um fim. Lutamos pelo contrário, na verdade. Lutamos pela continuidade e, numa guerra desta, vencer é continuar de pé. É se orgulhar em ver alguém erguer sua espada ao nosso lado, contra todas as adversidades, por acreditar em nosso trabalho a ponto de o ter partilhado e buscado novos soldados para a campanha.

   
     Esta guerra não é contra pessoas. A arte não é religião. Não é e não deve ser imposta. A guerra é pela liberdade de manter uma outra opção a quem interessar. A televisão,com seus programas, não é um inimigo. O inimigo está em nós mesmos. Neste campo de batalha, nos enfrentamos a todo o momento. Lutamos contras nossas sombras. Contra a vontade de não lutar, aliás. E, quando as pernas bambeiam, nada como um companheiro para nos manter em pé. Costas com costas. Isso, por si só, nos dá força para brandir nossas espadas com mais vigor e podermos, no fim de um dia, ou dias, sentar em frente uma fogueira e compartilhar um momento entre amigos. Quando novas histórias podem ser contadas.

  Esta é a razão.


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Sou William Morais. Quero ser artista quando crescer -e no decorrer-. Aventure-se pelo índice de publicações e descubra mais sobre A Saga do Novo Tempo e meus livros! Para conhecer minhas outras artes, acesse o meu Portal!

  

Escrevendo sobre escrever I

       



    Tive o prazer em assistir, em 2012, a uma palestra de Andrew Stanton, diretor responsável por sucessos da Pixar, como Toy Story, Procurando Nemo, Wall-e e John Carter e a princesa de Marte. Tudo o que ele disse foi interessante, realmente, sobre a arte de contar histórias. Ele, porém, abriu a palestra com algo que pode ter sido uma mera piada para quebrar o gelo como dizem, embora ele tenha justificado muito bem, ao dizer que contar uma história é como contar uma piada e tudo deve ser em função de chegar a um ponto. A piada era: 

   Um turista está viajando de mochila pelas montanhas da Escócia, e para em um bar para uma bebida. E as únicas pessoas lá são um garçom e um homem velho cuidando de uma cerveja. Ele pede uma caneca de cerveja, e eles se sentam em silêncio por algum tempo. De repente o homem velho se volta para ele e diz: ”Você vê este bar? Construí este bar com minhas próprias mãos da melhor madeira do condado. Dei a ele mais amor e carinho que a meu próprio filho. Mas me chamam de MacGregor, o construtor do bar? Não;” Aponta pela janela. ”Você vê aquele muro de pedras ali fora? Construí aquele muro de pedra com minhas próprias mãos. Encontrei cada pedra, arrumei-as assim debaixo de chuva e frio. Mas me chamam de MacGregor, o construtor do muro de pedra? Não.” Aponta pela janela.”Você vê aquele píer no lago lá fora? Construí aquele píer com minhas próprias mãos. Empilhei a madeira contra a força da areia, tábua por tábua. Mas me chamam de MacGregor, o construtor do píer? Não. Mas você fode uma única cabra…”

    É engraçado, mas, profundo.  Talvez eu não tenha apreciado tão bem o restante da palestra, em virtude desta piada. Ela me fez pensar. Ou talvez, exatamente por isso, eu tenha aproveitado melhor do que o restante dos ouvintes. 

    O que a piada me contou? Reconhecimento por talentos é tão difícil quanto é fácil sermos criticados pelo que pode ser visto como nossas fraquezas.

    Este insight me guiou por uma linha além do mero contar uma história. Para o artista o reconhecimento de seu talento é mais valioso do que qualquer moeda. A moeda apenas possibilita a concretização da arte. O elogio é o que mantém a vontade de concretizá-la.

    Aproveito para deixar aqui registrado os meus sinceros agradecimento a todos que me enviaram parabenizações pelo meu primeiro livro, das mais variadas formas, seja por e-mails, em aperto de mãos, scraps, depoimentos, publicações, ou comentário sobre uma postagem em blog, como esta, e tudo o mais. Sem elas não haveria, provavelmente, uma versão estendida do primeiro livro e nem mesmo um segundo. Foram elas que me impulsionaram a ir além. São os ventos nas velas do navio... e que o vento não cesse.


William Morais