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Esta introdução não consta no livro, mas é válido situar o leitor:
Imagine o futuro. Mas imagine o futuro como o passado. Ou melhor; imagine um futuro onde a tecnologia moderna foi abandonada por ter se tornado tão perigosa a ponto de quase ter destruído a humanidade.
Imagine o futuro. Mas imagine o futuro como o passado. Ou melhor; imagine um futuro onde a tecnologia moderna foi abandonada por ter se tornado tão perigosa a ponto de quase ter destruído a humanidade.
Para sobreviver, os
remanescentes resolveram iniciar uma vida mais simples, inspirados em seu
passado distante. E o futuro foi moldado como a antiga era medieval. Para que as desavenças do passado, no entanto, não fossem herdadas pelas novas gerações, toda a história da humanidade, até então, deveria ser esquecida.
E assim foi. O passado foi enterrado juntamente com os vestígios da era tecnológica e uma era neo-medieval floresceu. Séculos se passaram. Grandes navios foram construídos e os piratas começaram a surgir.
E assim foi. O passado foi enterrado juntamente com os vestígios da era tecnológica e uma era neo-medieval floresceu. Séculos se passaram. Grandes navios foram construídos e os piratas começaram a surgir.
Neste futuro
neo-medieval, chamado de Novo Tempo, um garoto foi levado até as raras relíquias do passado esquecido,
que nada mais eram do que livros e filmes, onde havia um aparelho que se alimentava
de energia do sol e, através do qual, a criança pôde se deslumbrar com muitas
aventuras.
Assim, inspirado em
heróis do passado esquecido, o garoto cresceu, se tornando o pirata Ônix
Pedra-Negra, para viver a própria e surpreendente aventura.
Na taverna do Coelho Caolho, o
dia mal havia começado e a vida do pirata Ônix Pedra-Negra corria sério risco
de terminar.
O pirata estava ciente do
perigo e sua mente trabalhava na busca por uma resposta para a pergunta mais
urgente em sua mente: o rum, restante na caneca em sua mão, seria suficiente
para quantos goles?
Exatamente. O pirata Ônix
Pedra-Negra nunca perdia seu tempo pensando em quanto tempo de vida lhe
restava. Ele vivia cada momento de cada vez, e, se isso não lhe bastava, e não
bastava, a razão era, certamente, por um vazio preencher sua alma.
Nem todo rum do mundo seria o
suficiente para preencher tal vazio. Ele também estava ciente disso. O passado
o assombrava mais do que o futuro. Mas, dar um passo de cada vez, talvez o
levasse ao fim de sua espera. Talvez ele alcançasse o momento de ter em seus
braços alguém que o fizesse deixar o rum de lado...
Naquele exato momento, porém,
Ônix mirava a caneca em sua mão. O rum do Chumbrega não era dos piores. Ele
estalou os lábios após um gole.
*
Algum tempo passou e a caneca
de Ônix foi esvaziada. Tudo o que restou de rum estava na garrafa quase vazia,
anteriormente guardada, para um momento de emergência. E o momento era aquele.
O coração de Ônix acelerou-se ao lembrar do passado. Ele precisava relaxar.
Precisava de mais rum e isto justificava a urgência com a qual abriu a garrafa,
deixando a rolha cair. A pequena peça de cortiça rolou até os pés de uma
linda mulher, que havia acabado de entrar na taverna. Ela trazia uma espada e
um punhal, pendurados em sua cintura.
Ninguém na taverna se movia,
naquele momento, mas todos olhavam curiosos para ela. Se a fama que a precedia,
em relação às suas perícias como espadachim, gelava a alma dos homens, a beleza
dela, por sua vez, esquentava o corpo dos mesmos que, inevitavelmente, se
sentiam atraídos, como moscas pela luz das tochas. Até mesmo Gertrudes
deslumbrou-se com a visitante. Mas, por sorte deles, ou não, o alvo dela era
definido...
Uma sobrancelha de Ônix
ergueu-se, automaticamente, assim como outra parte de seu corpo, quase
entorpecido, quando desceu os olhos pelo belo corpo da mulher, coberto sob uma
capa preta, a qual, propositalmente ou não, falhava nesta missão. Mesmo a longa
saia, também preta, só conseguia insinuar o quão belo era seu corpo.
Até suas luvas negras, cobrindo suas mãos e muito de seus braços, apenas
ampliavam a sensualidade natural que ela possuía. A única peça de cor, vestida
por ela, era o espartilho vermelho sangue. Vermelha era, também, a cor das gotas
de granada, que ornavam um crucifixo pendurado em seu pescoço.
A mulher deu alguns passos,
mirando os olhos do pirata Pedra-Negra e, com seu dedo indicador, chamou-o,
autoritária. Ônix olhou para trás, como se perguntasse: “É comigo?” E a recém
chegada inclinou a cabeça, repetidas vezes, como se respondesse: “Sim, é com
você mesmo”. Sorrindo, Ônix deu passos largos na direção da beldade e ela
precisou pará-lo com a mão para não ser beijada. A repulsa, visivelmente
sentida pela garota, foi abafada com um suspiro, antes que ela apontasse para a
garrafa aberta na mão esquerda de Ônix, e dissesse:
– Procuro por um pirata bêbado,
e algo me diz que é você.
– E eu procuro pelo amor da
minha vida, e algo me diz que é você – o pirata respondeu, apontando, com
um breve sorriso, para o belo corpo da garota.
– Não me irrite. Ouvi dizer que
tem informações sobre quem matou meu pai, um estrangeiro que esteve nestas
terras, meses atrás.
– Este estrangeiro matou seu
pai?
– Não! Meu pai é o
estrangeiro.
– Então,
você é estrangeira?
– Não vim aqui para responder
às suas perguntas, e sim para que você responda às minhas – a bela
mulher falou, respirando fundo pela segunda vez, em busca de paciência.
– Com sua vinda aqui, talvez
encontre suas respostas, mas eu, com certeza, encontrei minha razão de viver – disse o pirata.
– E para que continue vivo,
é bom dizer o que quero saber – a garota respondeu, em tom bem firme,
enquanto seu dedo indicador batia sobre o punho de sua espada, indicando a dor
que ela poderia causar, se fosse contrariada.
– Desculpe, mas não posso dizer
nada sem pagamento – disse Ônix, simplesmente ignorando a ameaça.
– Se me disser algo realmente
valioso, quem sabe eu lhe dê algumas moedas.
– E quem falou de dinheiro? – perguntou o pirata, usando seu dedo indicador para desenhar, no ar, as curvas do
belo corpo à sua frente.
– Você não tem idéia de
quantos idiotas como você eu já convenci a dizerem tudo o que eu
queria.
– Você não tem idéia de
quantas mulheres lindas como você eu já convenci a... – Ônix girou
os punhos e fechou as mãos no ar, trazendo-as para junto de sua cintura, como
se visualizasse o corpo dela colado ao seu. – Mas, estou pensando seriamente em
me dedicar única e exclusivamente a você, doravante.
– Nunca me obrigará a
nada. E sempre posso obrigar alguém a me dizer o que quero – ela o alertou,
pela segunda vez, enquanto o avaliava. A audácia dele era descarada, mas o
olhar do pirata despertava nela visível simpatia. E, constrangida, pareceu
perceber o motivo de ainda não ter sacado sua espada. Ônix percebeu que ela
havia percebido, que ele percebeu, que ela não estava tão concentrada como
queria parecer, e disse, calmamente:
– Nunca precisei obrigar mulher
alguma a se aproximar de mim. Elas terminam por fazer isso de bom grado,
acredite.
– Não sou como as mulheres que
você conheceu, acredite.
– Acredito... – disse o pirata,
após pegar a única rosa, branca, que enfeitava aquela taverna. Sua voz era
profunda e ele mirava profundamente os olhos de Mégane de L’arc, quando se
aproximou, dizendo: –... pois passei a minha vida inteira buscando um pequeno
instante que justificasse todo o resto, e, quando vi você, percebi que todo o
resto é que foi um pequeno instante. Sempre me senti perdido, em queda
constante, mesmo que, para mim, o pulo seja a morte. Mas, em teus olhos sinto
mudar minha sorte. Ouso, sim, sonhar com a possibilidade de, quem sabe, mudar.
Quero buscar tua pele como a rosa busca o alto... e que meu beijo, então, sele
o fim da queda antes do salto...
Ônix colocou a rosa na mão da
bela dama, enquanto ela absorvia as palavras inusitadas do pirata, carregadas
de sentimento suficiente para que deixassem de ser meras palavras. Os lábios do
pirata quase tocaram os lábios da mulher que, como quem despertou de um sono,
terminou empurrando, para longe, o audacioso Pedra-Negra. A rosa, ela
simplesmente soltou, com esperança do sentimento despertado pelo pirata ir
junto. Meio atrapalhada e fingindo estar irritada, perguntou:
– Não tem medo de perder sua
vida? Seu pirata, patife, salafrário, mequetrefe e ladrão!
– Em primeiro lugar, sim, sou
um ladrão, mas o que posso fazer se, por fim, foi você quem roubou meu
coração? – disse o pirata, com um sorriso, aproximando-se novamente. – E em
segundo lugar, sim, tenho medo de perder minha vida, por isso, é melhor
ficarmos de mãos dadas. - Ele pegou a mão da bela mulher e ela livrou-se
rapidamente, prendendo a respiração, antes de perguntar:
– Qual o teu nome, pirata?
– Ônix Pedra-Negra, mas pode me
chamar de meu amor.
– Ônix. Agora já sei o
nome que devo escrever em sua lápide, se tentar me tocar novamente – ela
disse, apontando ameaçadoramente para ele, que simplesmente segurou a mão
estendida e a beijou. Mesmo por cima da luva, Mégane sentiu a ternura do beijo.
Ela não podia deixá-lo perceber e decretou, rapidamente, após livrar-se dele
mais uma vez: – Abusou demais de sua sorte, pirata! Como prefere morrer?
– Prefiro viver, ao teu lado,
para ser sincero. Mas, se insistir em lutar, vou me defender, se isso não
ofendê-la, é claro. Só espero não precisar ferí-la, antes que admita
sua derrota. Se vai lutar comigo, saiba quando parar, pois, meus punhos, são
como o rum: fortes demais para uma garota – respondeu o pirata, momentos antes
de erguer sua garrafa de rum, para finalmente bebê-lo. Porém, a poucos
centímetros de seus lábios, a garrafa foi roubada pela mesma mão beijada por
ele e Ônix olhou, a tempo de ver Mégane esvaziar o vasilhame de vidro, num
só gole. Depois, devolveu a garrafa vazia ao admirado pirata.
– Acabo de me apaixonar de vez – disse ele, jogando a garrafa fora, displicentemente, como se, com este ato,
jogasse fora também todos os detalhes que os colocaram ali, frente a frente, e
que não mais importavam. – Quer esquecer tudo isso e ir ao meu navio celebrar a
vida?
Mégane pareceu não acreditar
naquelas palavras. O pirata era, obviamente, imprevisível. E mesmo relutante em
admitir, tudo indicava o quanto ela queria entender este homem antes de lutar
e, talvez por isso, tenha perguntado:
– Você é mesmo um
louco. Sabe quem eu sou?
– A futura mãe de meus filhos?
- O pirata arriscou.
– Deve ter ouvido falar de mim – ela tentou falou, tentando ignorar as palavras dele. – Meu nome é Mégane de L’arc.
– Mégane. Agora já sei o
que devo escrever dentro do coração que tatuarei em meu braço – ele disse.
– Não se eu arrancá-lo antes.
Mas, admito: você tem coragem. Por isso, se me mostrar ser bom o
suficiente, quem sabe eu não o machuque muito, antes de arrancar de
você todas as informações das quais preciso.
– Posso lhe mostrar mil
maneiras de lhe derrotar – o pirata disse. – Assim como posso lhe mostrar mil
outras maneiras de lhe amar. Me dê uma chance e as únicas coisas que vai
querer arrancar de mim, serão minhas roupas. Se me der uma chance, serei capaz
de esquecer todas as outras mulheres do mundo. Meu coração só quer você...
– Então... - Mégane retirou sua
capa de forma sensual e deu alguns passos em direção ao pirata que, ante a bela
visão, sorriu. Naquele momento ela sacou sua espada e apontou para o peito
dele, dizendo: -... terei de partir seu coração.
Ônix, após retirar seu
sobretudo, mesmo aparentemente relutante em lutar, sacou sua espada e a jogou
para o alto, duas vezes, exibindo-se, antes de atacar e ser surpreendido com a
facilidade de Mégane em se livrar do ataque, usando, em seguida, a própria
espada do pirata para mostrá-lo como ele morreria facilmente, se ela desejasse.
Ônix não deixou por menos e, habilmente, livrou-se dela, e foi sua vez de
mostrar como ele a mataria se quisesse, antes, é claro, de Mégane desarmá-lo e
derrubá-lo com maestria. O pirata, por sua vez, conseguiu roubar a espada que,
há poucos segundos, estava apontada para sua garganta e o mantinha quieto no
chão. Logo, seguiram-se várias demonstrações de como ambos eram mestres na arte
da esgrima. O último movimento terminou com ambos tocando com suas lâminas o
pescoço do outro. Um aparente empate. Ônix recuou lentamente e, suspirando
fundo, guardou sua espada.
–
Você nunca teria coragem de me matar – disse Mégane, segura de si.
– Nunca
mataria uma mulher – o pirata admitiu.
– Mas
eu já matei muitos homens.
– Eu
disse que jamais mataria uma mulher, mas isso não me impede de derrotar uma.
– E
como fará isso, sem ao menos me ferir?
– Não
farei... – disse o pirata. Tinha um leve sorriso no canto esquerdo de seus
lábios. –... já fiz. Lhe derrotei três minutos atrás, quando feri, não teu
corpo, mas sim teu orgulho, lhe induzindo a beber um pouco de rum com
sonífero, suficiente para derrubar uma pessoa em aproximadamente três minutos e
meio...
Mégane
mostrou sinais de tontura. Seu visível esforço para um último ataque não foi
suficiente e terminou desfalecendo nos braços do pirata
Pedra-Negra.
–...
exatamente assim – ele disse e sorriu.
*
O pirata Ônix Pedra-Negra nunca
perdia seu tempo pensando em quanto tempo de vida lhe restava. Ele vivia cada
momento de cada vez, e, se isso não lhe bastava, e não bastava, a razão era,
certamente, por um vazio preencher sua alma.
Nem
todo rum do mundo seria o suficiente para preencher tal vazio. Ele também
estava ciente disso. O passado o assombrava mais do que o futuro. Mas, dar um
passo de cada vez, talvez o levasse ao fim de sua espera. Talvez ele alcançasse
o momento de ter em seus braços alguém que o fizesse deixar o rum de lado...
E,
quando isso acontecesse, a maior aventura de sua vida estaria apenas
começando...
Fotografias
por Marina Reis para o Grupo Revel de Teatro Fantástico que adapta trechos das
obras de William Morais.
Ônix é interpretado por William Morais e Mégane de L'arc é interpretada por Renata Rodrigues.
Apoio: Belladonna Corsets e Moda Alternativa (A Estilista e Corsetière Renata Rodrigues confeccionou o espartilho especialmente para a personagem a partir do desenho de William Morais).
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Sou William Morais. Quero ser artista quando crescer -e no decorrer-. Aventure-se pelo índice de publicações e descubra mais sobre A Saga do Novo Tempo e meus livros! Para conhecer minhas outras artes, acesse o meu Portal!
Ônix é interpretado por William Morais e Mégane de L'arc é interpretada por Renata Rodrigues.
Apoio: Belladonna Corsets e Moda Alternativa (A Estilista e Corsetière Renata Rodrigues confeccionou o espartilho especialmente para a personagem a partir do desenho de William Morais).
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Sou William Morais. Quero ser artista quando crescer -e no decorrer-. Aventure-se pelo índice de publicações e descubra mais sobre A Saga do Novo Tempo e meus livros! Para conhecer minhas outras artes, acesse o meu Portal!